domingo, 29 de março de 2009

Revista da Hora - São Paulo Agora - 29/03/2009

OS DONOS DA COZINHA
Por Leandro Nomura
Eles adoram colocar a barriga no fogão, equipam a cozinha com produtos descolados, aventuram-se por cursos de gastronomia e usam seus dotes culinários para atrair mulheres. Esse é o retrato de uma parcela dos homens de hoje, que receberam recentemente o apelido de gastrossexuais.
O termo foi bazitazo pela Future Foundation, uma instituição britânica que realizou, em 2008, um estudo sobre o comportamento dos homens na cozinha. O resultado da pesquisa surpreende. Para ter uma idéia, comparado com um levantamento feito em 1961, hoje os homens passam cerca de 27 minutos por dia entre as panelas, cinco vezes mais do na década de 60, quando eles ficavam por volta de cinco minutos. E eles fazem isso por prazer: 52% dos entrevistados disseram que cozinhar é um hobby e não uma obrigação. Entre as mulheres, esse número cai por 40%.
O empresário Eduardo Moraes, 28 anos, é um desses caras. "Sempre que viajo, tento experimentar comidas e temperos regionais. Acabei pegando gosto por sabores diferenciados, e cozinhar virou um hobby".
Outro que deixou o preconceito de lado e resolveu encarar o fogão foi o recepcionista de hotel Leonardo da Silva Messa, 21 ano. "Quando eu era criança, ficava observando minha mãe cozinhando e peguei gosto pela coisa. Tanto que, na gaculdade de hotelaria, a ênfase foi na área de gastronomia. Hoje eu não trabalho com isso, cozinho por lazer".
"Componente pegador"
O motivo principal que leva os homens para a cozinha é bem prático. Hoje, eles se casam mais tarde e precisam se virar no fogão quando decidem sai da casa dos pais. Segundo a pesquisa da Future Foundation, em média, os homens encaram o seu primeorp casamento ao 32 anos, bem mais velhos do que na década de 60, quando subiam ao altar pela primeira vez já aos 25 anos.
" Essa tendência de o homen cozinhar vem acontecendo há algum tempo. Atualmente, muitos moram sozinhos, porque se separam, postergaram o casamento ou porque resolveram não se casar", explica o psicoterapeuta Antonio Carlos Amador Pereira, professor de psicologia da PUC-SP (Pontifícoa Universidade Católica).
Morena Leite, chef e coordenadora da Escola Sabores Capim Santo, concorda. "Desde que comecei a dar aulas, há nove anos, sempre tive um público masculino maior do que o feminino. Isso porque as mulheres enxergam a cozinha como obrigação, eo homem, como hobby. Tenho um grande número de alunos com mais de 40 anos que são separados. Eles Veem a gastronomia como um elemento sedutor na hora de conquistar uma nova namorada".
Moraes ainda não se casou, mas já utilizou sua experiência na cozinha para conquistar mulheres. " A gastronomia é um componente pegador. Uma vez, achei uma receita de risoto de fungi na internet. Testei antes e chamei uma garota para jantar. Ela ficou maravilhada", explica o empresário, que apostou em bruschettas na entrada e em uma sobremesa artesanal comprada pronta. Se virou namoro? " Não, porque não era essa a intenção". Atualmente, Moraes está fazendo aulas de etiqueta para se sair melhor no manuseio dos talheres.
O diretor de arte Sergio Uberti, 28 anos, cozinha com frequência diferentes pratos para a namorada. "É sempre bom agradar a quem você ama. Sempre pergunto para ela: 'o que você está a fim de comer hoje?' ".
O recepcionista Messa nunca preparou um jantar para conquistar uma mulher, mas acredita que a gastronomia pode ser um elemento sedutor. "Ainda não fiz um jantar assim, porque não moro sozinho. Mas, em casa, dá para fazer um encontro mais íntimo e romântico. É uma boa alternativa para escapar dos restaurantes".
O chef Ivan Gohara, do Kony Sushi Bar, confidencia que já pegou mulheres elo estômago e diz que preparar a comida em casa também pode ser saudável para o bolso. "Antes de me profissionalizar, fiz um curso de sushi e sempre preparava para as meninas. Eles gostavam, e ficava mais barato do que levar para jantar fora", diz o chef, que acredita que, nessas ocasiões, o vinho é sempre o melhor acompanhamento.
Nos finais de semana, o fotógrafo Tadeu Brunelli, 30 anos, é quem comanda a cozinha da casa e compartilha a opinião de Ivan: não dispensa o vinho branco para harmonizar com os pratos.
"Nesses jantares feitos para a mulher, o vinho é a melhor bebida, pois não derruba ninguém. A cerveja demora para colocar o casal no clima", explica o fotógrafo, especialista em steak tartar e em doces, como salaminho de chocolate e crepe de goiabada.
Para o psicoterapeuta Antonio Carlos, as mulheres se sentem atraídas por homens que cozinham, pois além de perceberem que eles sãp mais sensíveis e menos machistas, elas também gostam de ser mimadas. "É uma expressão de carinho e de cuidadeo, quase uma prova de afeto".
O chef Carlos Ribeiro, do restaurante Na Cozinha, vai além. " A cozinha é um espaço onde as pessoas se dermam, por isso é o ambiente propício para momentos de sedução."
Sem arroz e feijão
Na hora de enfrentar panelas e temperos, os homens não gostam do trivial.
Deixam o arroz com feijão e o bife com batatas fritas de lado e investem em pratos elaborados que impressionam os amigos e as mulheres.
"Eles não querem fazer a comida básica. Deixam essa parte para as mulheres ou para as empregadas.. Preferem pratos sofisticados para mostrar que é bacana. Faz parte da mise-en-scène", afirma a chef Cris Maccarone, uma das sócias da escola de cozinha. Madame Aubergine, que tem os cursos de carnes de caça, assados e risotos entre os mais procurados pelos homens.
Vera Xavier, gerente da escola Atelier Gourmand, diz que as aulas que os homens mais procuram são os de risotos, carnes, pizzas e paellas. "Eles gostam de aparecer mais do que a mulher. Quando cozinham, fazem questão de dizer que foram eles que fizeram".
Uberti leva a tendência ao extremo. Apaixonado por história, começou a se envolver mais com a culinária ao estudar os costumes da Idade Média. Conta já preparou até carne de cavalo para a namorada. " Mas ela gosta é de javali e de doces com água de rosas", afirma.
Segundo a pesquisa do instituto britãnico, os homens cozinham para mostrar aos amigos e às parceiras o quão sofisticados eles podem ser. "Frequentemente, se diz que o homem é aquilo que ele come. Os gastrossexuais são aquilo que eles cozinham. Preparar pratos é uma parte importante da sua identidade e da sua vida social", atesta o estudo.

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